O campo estava envolto em uma quietude perturbadora, como se o mundo estivesse em suspenso, esperando que o próximo movimento, a próxima palavra, desencadeasse a queda de todo o tecido da realidade. O sol estava encoberto por uma névoa espessa, e o vento, que antes parecia trazer alívio, agora era quente e denso, como se carregasse o peso de uma tempestade iminente. Ethan, Ireth e Kael se encaravam, cada um com suas próprias intenções e visões, mas todos cientes de que o futuro do mundo repousava sobre os próximos segundos.
Kael observava tudo com uma expressão de desdém contido, como se estivesse vendo uma peça de teatro prestes a atingir seu clímax. Ele sabia o que viria a seguir, mas estava ansioso para ver até onde Ethan poderia ir para evitar o inevitável.
Ireth, por outro lado, parecia imperturbável. Ela estava em perfeita sintonia com o que acontecia ao seu redor, seus olhos refletindo um conhecimento profundo de todas as forças em jogo. Ela havia falado sobre o sacrifício, sobre a necessidade de Ethan abrir mão de sua humanidade, mas seu rosto mostrava uma tristeza que Ethan ainda não conseguia entender completamente. O que ela estava realmente buscando? Qual era o seu objetivo? E por que ela parecia tão calma diante de uma escolha que poderia destruir tudo o que ele conhecia?
Ethan sentiu o peso de suas palavras. Sacrificar a sua humanidade, abrir mão de quem ele era para salvar a si mesmo, salvar o mundo... A ideia o torturava. A essência de quem ele era era a única coisa que ele sentia que ainda possuía. Se ele a perdesse, o que restaria? Não haveria mais nada. Ele se tornaria um ser vazio, uma marionete no jogo cósmico de Kael e Ireth, sem alma, sem propósito, sem identidade.
Mas o que ele poderia fazer? A destruição parecia inevitável. O Elo Primordial estava em movimento. O tempo estava contra ele. Cada momento que ele demorasse a decidir, o poder de Kael se tornaria mais forte, e as linhas do destino que ele desejava evitar se tornariam ainda mais difíceis de manipular.
A tensão no ar se tornava palpável. Kael deu um passo à frente, sua aura de destruição se intensificando. Cada vez que ele se movia, o chão tremia, como se o próprio universo estivesse reagindo à sua presença.
— Você não entende, Ethan. — Kael disse, sua voz profunda e ameaçadora. — A verdadeira força do Elo Primordial não está em sua destruição. Ela está na sua capacidade de reescrever tudo. Você e eu, juntos, podemos moldar a realidade à nossa vontade. Eu posso te mostrar o caminho, posso te oferecer o poder para dominar o universo.
Kael estendeu a mão, uma energia negra e densa começando a se formar ao seu redor. O ar ao seu redor parecia torcer-se e distorcer-se, como se a própria realidade estivesse se contorcendo sob seu comando.
Ethan olhou para Ireth. Ela estava observando Kael, mas seus olhos estavam fixos em Ethan, como se estivesse esperando uma reação, uma decisão. Ele sabia que ela não seria capaz de impedir Kael sozinha, mas ela tinha o conhecimento, o entendimento que ele precisava. Ela sabia mais do que qualquer um sobre o Elo Primordial, sobre a verdadeira natureza da escolha diante dele.
Ireth finalmente falou, sua voz suave, mas cheia de uma sabedoria imensa.
— O que Kael oferece é tentador, Ethan, mas o que ele não te diz é o preço da escolha. — Ela olhou para Kael com um olhar de repulsa, mas sua voz não vacilou. — Ele não pode te oferecer o controle. O Elo Primordial não pode ser controlado. Ele destrói tudo e todos que se atrevem a tocá-lo. O poder que Kael oferece não é um poder que você pode manter. Ele vai consumir você, como consumiu todos antes de você.
Ethan olhou para Kael, os olhos brilhando com uma mistura de raiva e confusão. As palavras de Ireth faziam sentido, mas o poder oferecido por Kael era irresistível. Ele podia sentir a tentação. A possibilidade de reescrever tudo, de ter o controle absoluto. Ele sempre se sentiu impotente diante das circunstâncias de sua vida. Mas agora, com o Elo Duplo, ele poderia ser mais do que apenas um peão nesse jogo.
Mas a cada segundo que se passava, algo dentro de Ethan o dizia que essa escolha não era apenas sobre poder. Era sobre quem ele seria depois. Quem ele desejava se tornar.
— Eu não preciso de poder para destruir o que me ameaça. — Ethan disse, a voz agora carregada de uma certeza que ele não sabia que possuía. Ele olhou diretamente para Kael. — Eu vou impedir você, Kael. Eu não sou como você. Não importa o que me ofereça, não vou sacrificar quem sou para alcançar o que você quer.
Kael sorriu com um ar de desprezo, como se estivesse vendo um adolescente rebelde tentando desafiar um poder muito maior do que ele.
— Você realmente acredita nisso, Ethan? Você acha que sua resistência será suficiente para resistir ao poder do Elo Primordial? — Kael riu. — Você não é nada. Você sempre foi nada. E no fim, será consumido como todos os outros. O que você tem, eu já possuo. A verdadeira questão é: você vai se unir a mim ou será destruído?
A energia ao redor de Kael se intensificou, formando uma tempestade de destruição que parecia pronta para engolir tudo ao seu redor. O Elo Duplo dentro de Ethan pulsava, uma força em constante crescimento, mas também em conflito. Ele sabia que estava em uma encruzilhada. A escolha estava diante dele. E, enquanto Kael avançava, Ethan sentiu um grito dentro de si — não de medo, mas de uma força renovada.
A escolha que ele precisava fazer não era sobre lutar contra Kael ou Ireth. Não era sobre o controle do Elo Primordial ou o poder absoluto. A escolha verdadeira era sobre a própria essência de Ethan. Ele não poderia deixar o medo ou a ambição o definirem. Ele precisava ser fiel a si mesmo.
— Eu não vou ser seu servo, Kael. — Ethan disse, sua voz cheia de resolução.
Com um movimento rápido, ele ergueu as mãos, concentrando toda a energia do Elo Duplo em um ponto, liberando uma explosão de luz branca que iluminou todo o campo. A força foi tão intensa que fez Kael retroceder por um momento. A energia se espalhou, e o próprio tecido da realidade começou a se distorcer, como se o impacto tivesse alterado o fluxo do tempo.
Ireth observou em silêncio, um leve sorriso nos lábios. Ela sabia que Ethan tinha feito sua escolha. O futuro ainda era incerto, mas uma coisa estava clara: a batalha final havia começado.
Kael, agora enfurecido, levantou a mão, preparando-se para retaliar com toda a sua força.
— Você não vai escapar, Ethan! — Ele gritou, sua voz cheia de fúria e ódio.
Mas, antes que ele pudesse atacar, algo inesperado aconteceu. O Elo Duplo e o Elo Gêmeo começaram a brilhar intensamente, criando uma onda de energia que não apenas afastou Kael, mas também fez o próprio espaço ao redor deles se desintegrar momentaneamente.
Ethan sabia que sua escolha estava apenas começando a mostrar suas consequências. Mas, por agora, ele estava decidido a lutar. E, enquanto Kael se reagrupava, Ethan sentiu a verdade dentro de si: o poder do Elo Duplo não era para ser dominado, mas para ser equilibrado. E isso ele faria, não importa o custo.