A tensão no ar era palpável. O templo de Zareth, agora distorcido pela energia da Entidade da Reversão, parecia pulsar com um ritmo próprio, como se estivesse vivo e consciente da ameaça que Ethan e Ireth representavam. O som dos cristais cortando o ar era uma música mórbida, e o chão sob seus pés parecia ceder a cada passo, como se a própria realidade estivesse sendo dobrada pela influência do poder crescente de Zareth.
Ethan olhou para Ireth, que estava pronta para atacar a qualquer momento. Seu espírito marcial estava intensamente ativo, os olhos brilhando com o poder de sua ancestralidade. Mas Ethan sabia que, por mais poderosa que fosse sua aliada, nada no mundo físico poderia ajudá-los contra o que estavam prestes a enfrentar. A verdadeira ameaça estava além da percepção comum.
— Zareth... — Ethan murmurou, sua voz abafada pela crescente tempestade de distorções no ambiente. — O que você realmente quer?
Zareth, de pé no centro da sala, observava-os com um sorriso sombrio. Seu capuz cobria parcialmente seu rosto, mas os olhos — aqueles olhos gelados — transmitiam a confiança de alguém que estava prestes a alcançar a vitória definitiva.
— Você não entende, Ethan. — Zareth respondeu calmamente, sua voz reverberando pela sala de pedra. — O mundo em que você vive é uma prisão. Cada escolha que você fez, cada erro que você cometeu, está gravado no tempo, fixado em uma linha que não pode ser alterada. A Entidade da Reversão... ela vai apagar essas limitações. Ela vai dar à humanidade a chance de reescrever tudo. Para que o sofrimento, as perdas e as guerras... tudo isso seja apenas uma memória distante, sem poder algum.
Ethan deu um passo à frente, seus punhos cerrados. Ele sentia a raiva crescendo dentro de si, mas também sabia que uma reação impulsiva poderia ser fatal.
— E você acha que isso é o melhor? Alterar a realidade à sua vontade? Zareth, você não está trazendo a liberdade. Está criando um ciclo interminável de controle. O que você quer não é redenção, mas poder absoluto.
Zareth deu um leve sorriso, como se a fala de Ethan fosse algo esperado, mas não totalmente compreendido.
— Você está enganado, Ethan. O poder absoluto é liberdade.
Nesse instante, as paredes do templo começaram a brilhar com uma luz pulsante, e a energia ao redor deles intensificou-se de forma violenta. Era como se o próprio tempo estivesse sendo dobrado e esticado ao seu redor, os segundos se arrastando, enquanto tudo se tornava mais e mais surreal. A presença da Entidade da Reversão estava agora mais forte do que nunca, e Ethan sentiu a pressão sobre sua mente, como se cada pensamento fosse pesadamente vigiado.
De repente, o chão sob seus pés se rachou, e uma fenda imensa surgiu, engolindo a luz e deixando apenas um vazio negro. O som da distorção temporal reverberava, e Ethan se viu sendo arrastado para o abismo. Ireth gritou seu nome, mas o som de sua voz foi engolido pela escuridão.
Quando a escuridão desapareceu, Ethan se viu em um cenário completamente diferente. O templo havia sumido, e ele estava agora em uma versão distorcida da paisagem ao seu redor. As árvores eram formas nebulosas e indistintas, os céus estavam tomados por uma cor vermelho-escura, como se o próprio mundo estivesse sangrando.
— O que é isso? — Ethan perguntou, sentindo um calafrio percorrer sua espinha.
Zareth apareceu à sua frente, agora em uma forma distorcida, seu corpo se contorcendo de maneira antinatural. Ele parecia mais uma sombra que uma pessoa, uma manifestação do próprio véu que estava distorcendo a realidade.
— Bem-vindo ao meu domínio, Ethan. Este é o espaço-tempo que eu criei. Aqui, a linha do tempo não existe mais. Tudo é fluido. As escolhas não têm significado, e os momentos se repetem, se alteram, se apagam e se recriam. Tudo ao seu redor pode ser reescrito.
Ethan olhou em volta, tentando manter a compostura. A realidade à sua volta parecia estar mudando a cada momento, como se fosse apenas uma projeção do que poderia ser, uma ilusão que podia ser destruída e refeita. Ele sabia que esse era o poder absoluto da Entidade da Reversão: o controle sobre o tempo e a existência.
— Isso não é liberdade. — Ethan disse, sua voz firme. — Isso é prisão. O que você criou aqui é uma cadeia infinita. Um ciclo sem fim.
Zareth riu, sua risada ecoando de forma desconcertante pela distorção do espaço. Ele não parecia se importar com as palavras de Ethan. Sua mente estava focada apenas em um objetivo: refazer o mundo.
— Você ainda não entende. Esse é o preço da verdadeira liberdade. A destruição do que é imutável, a liquefação da verdade. Você pode lutar contra isso, mas não será capaz de fugir. Eu sou a chave para a reescrita.
Ethan fechou os olhos por um momento, sentindo a presença de Ireth ao seu lado, mesmo que ela estivesse em outro lugar. Sabia que não podia permitir que Zareth conseguisse o que queria. Ele precisaria destruir a fonte do poder que Zareth estava usando, mas para isso, teria que desvendar o verdadeiro propósito da Entidade da Reversão.
— Eu não vou deixar você vencer, Zareth. Você pode ter o controle do tempo, mas o que você não tem... é o poder das escolhas.
Zareth parou por um instante, como se estivesse absorvendo as palavras de Ethan. Então, ele avançou, movendo-se com uma velocidade que parecia desafiar a própria lógica. Sua mão se estendeu em direção a Ethan, e uma onda de energia distorcida se formou, envolvendo-o completamente.
O espaço ao redor de Ethan se desfez em um borrão, e ele se viu em outra realidade. Desta vez, estava de volta ao templo, mas tudo estava diferente. A sala parecia estar em um estado de ruína total, e Zareth estava diante dele, mais poderoso do que nunca.
— Veja, Ethan. Você não pode escapar do que já foi escrito. Tudo o que acontece aqui é o que deveria acontecer. — Zareth disse com um sorriso vitorioso.
Mas, enquanto a distorção temporal continuava a assolar a mente de Ethan, ele sentiu algo mudar dentro de si. Ele sabia que sua luta não era contra Zareth, mas contra o próprio conceito de destino, contra a ideia de que o tempo deveria ser uma linha única e incontornável.
— Eu escolho lutar. — Ethan sussurrou.
E, com um movimento rápido, ele invocou a essência de sua alma marcial, canalizando o poder que ele havia acumulado ao longo de sua jornada. O tempo ao seu redor parecia desacelerar, e a pressão sobre ele se aliviou, como se ele tivesse quebrado uma camada de realidade.
E então, a luta verdadeiramente começou.