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Chapter 70 - Capítulo 70: A Jornada Interior

O labirinto continuava a se estender diante de Ethan, seus corredores cada vez mais complexos, distorcidos pela confusão que se formava em sua mente. Cada passo que ele dava parecia fazê-lo afundar mais profundamente em sua própria psique, onde os ecos de suas decisões passadas e as sombras de suas escolhas futuras se tornavam mais nítidos. A sensação de que ele estava sendo vigiado era constante, como se o próprio labirinto estivesse moldado pelas intenções mais profundas do seu ser.

Elyss, sempre ao seu lado, parecia ser a única âncora no meio do turbilhão. Sua presença era um lembrete de quem ele realmente era — um amigo, um aliado, alguém que não o julgava. Mas até Elyss, com toda a sua sabedoria, parecia distante quando as distorções do labirinto começavam a intensificar.

A cada nova bifurcação, a cada novo passo, os corredores pareciam se mudar e mudar novamente, como se o labirinto estivesse vivo, desafiando suas intenções, desafiando a lógica e a razão. As paredes pareciam pulsar, emanar uma energia quase palpável, como se estivesse se alimentando dos medos e dos pensamentos de Ethan.

— Não é isso o que você queria? — uma voz sussurrou, ecoando por todo o labirinto. A voz era baixa, quase inaudível, mas a familiaridade dela fez com que Ethan parasse abruptamente.

Era sua própria voz.

Ele olhou ao redor, tentando identificar de onde viera o som, mas as sombras eram impenetráveis.

— O que você está buscando? Poder? Controle? É isso o que você sempre quis, não é? Você sabe que tem o que é preciso para dominar tudo isso. Tudo o que tem a fazer é seguir em frente. Ninguém o impedirá.

A voz era insidiosa, serpenteante, como uma tentação que ele não podia ignorar. No fundo de sua mente, Ethan sentiu a presença da entidade que ele havia enfrentado antes, e com ela, o poder que ele havia começado a considerar, mesmo que com receio. A cidade de Valtor, com toda a sua grandiosidade e destruição, representava tudo o que ele poderia alcançar se abraçasse completamente essa força.

Elyss percebeu sua hesitação e parou ao seu lado, colocando a mão em seu ombro.

— Ethan, não se deixe levar por isso. Isso não é você. O poder não é a resposta para tudo. Lembre-se de tudo o que já enfrentamos. Não podemos salvar o mundo destruindo-o.

Ele olhou para ela, o conflito interno claro em seus olhos. Elyss sabia o que estava acontecendo em sua mente, e isso só aumentava o peso da decisão. Ethan queria ser mais forte, queria provar que poderia proteger aqueles que amava, mas ao mesmo tempo, ele temia que ao buscar esse poder, ele acabaria se tornando tudo o que odiava.

— Não é apenas o poder que eu quero — Ethan disse, a voz carregada de frustração. — Eu quero mais. Quero entender o que há por trás de tudo isso. Por que estamos aqui? O que está realmente em jogo?

A voz familiar, a voz de seu próprio eu distorcido, se ergueu novamente, agora mais clara e autoritária.

— Você nunca entenderá tudo. O que importa é que você tem a chance de tomar o controle. Aceite isso. O labirinto é o reflexo do que você realmente quer. Não há nada aqui que não possa ser conquistado se você for corajoso o suficiente.

A tentação crescia, e Ethan sentia a pressão aumentando, como se a própria cidade estivesse se comprimindo ao seu redor. A sensação de que ele estava sendo esmagado por suas próprias escolhas era quase insuportável. Mas então, uma nova visão apareceu diante de seus olhos — uma visão do futuro.

Ele viu a cidade de Valtor, mas não como era agora. Era grandiosa, próspera, uma civilização renascente, mas governada por uma força que ele não reconhecia. Ele se viu no topo, com o poder absoluto, e o peso dessa autoridade caiu sobre seus ombros, pesado e esmagador.

Mas à medida que ele olhava mais de perto, a visão começou a desmoronar. As pessoas ao seu redor estavam sofrendo, e ele não conseguia fazer nada para impedir. A cidade que ele havia reconstruído em sua mente estava, na verdade, afundando sob o peso do próprio ego. Ele viu seus amigos, os aliados que ele amava, sendo consumidos pelo caos que ele mesmo havia criado.

— Isso é o que você deseja? — perguntou Elyss, sua voz tremendo com uma mistura de compaixão e preocupação. — Você pode destruir tudo o que construiu. Mas lembre-se, o que você realmente busca não é o poder, é paz. A paz que você nunca encontrou. E ela não virá com o domínio absoluto. Ela virá com a escolha de proteger, não de destruir.

Ethan fechou os olhos, a visão se desvanecendo, mas o peso de suas palavras permanecendo. Ele sabia que Elyss estava certa. O que ele mais desejava não era ser o governante de uma cidade ou um império, mas alguém que pudesse fazer a diferença, alguém que pudesse proteger os inocentes e manter a paz. Isso era o que ele tinha perdido de vista.

A voz distorcida de seu reflexo, agora mais furiosa, se fez ouvir mais uma vez.

— Você não pode proteger a todos. O poder é o único caminho para fazer isso. Não há outra maneira. Você está apenas tentando se enganar.

Mas Ethan não se deixou abalar. Ele olhou diretamente para a visão, sua determinação renovada.

— Não. Eu não sou você. Eu escolho ser algo mais. Algo melhor. Eu escolho ser alguém que não precisa de poder para ser forte. Alguém que pode fazer a diferença com os outros ao seu lado.

As paredes do labirinto começaram a se desintegrar, as sombras recuando, e o chão tremendo com a intensidade de sua decisão. A força que o havia pressionado começou a desaparecer à medida que ele afirmava sua escolha. O reflexo distorcido de si mesmo foi engolido pela escuridão, e o labirinto, por fim, se dissipou, deixando Ethan e Elyss de pé no que parecia ser um novo horizonte.

— Você fez a escolha certa, Ethan — disse Elyss, sorrindo com orgulho. — Não é sobre o poder. Nunca foi.

Ele respirou fundo, sentindo a leveza retornar ao seu corpo. O labirinto, com todos os seus desafios, havia sido superado. Não por força, mas por entendimento, por aceitação das próprias limitações e desejos. A batalha mais difícil ainda estava por vir, mas agora, mais do que nunca, Ethan sabia quem ele era.

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