O silêncio que se seguiu à ativação do Nexus foi diferente de todos os que o precederam. Não era a ausência de som — era a ausência de ruído cósmico. Pela primeira vez desde que Ethan havia pisado naquele mundo, ele não sentia o Sistema tentando guiá-lo ou controlá-lo. Tudo ao redor dele parecia... suspenso.
A energia que emanava da esfera negra havia mudado de cor. Antes sombria e instável, agora pulsava em tons azul-violáceos, como se uma nova rede estivesse sendo tecida em tempo real.
Tang San se aproximou lentamente, observando a esfera.
— Você conseguiu mesmo... — murmurou, com um misto de respeito e cautela. — O mundo... mudou.
Ethan estava de joelhos, mãos apoiadas no altar. Suava em bicas, o corpo envolto por fios dourados de energia que se infiltravam em sua pele como raízes. A respiração era difícil. A mente, sobrecarregada.
Elyss apareceu ao lado de Xiao Wu, o semblante mais pálido do que o habitual.
— O Nexus foi apenas o início — disse ela. — O que você tocou, Ethan, foi o centro da rede espiritual deste plano. Agora, tudo está conectado diretamente a você.
— E isso é um problema? — Dai Mubai perguntou, limpando o sangue do canto da boca.
— É o que torna ele o alvo. — Elyss apontou para o teto do salão, onde fissuras começavam a se formar. — Os outros Arcontes sentiram. E vão reagir.
O grupo se retirou do santuário, seguindo por um novo caminho que se abriu após a ativação do Nexus. O corredor levava a uma escadaria ascendente, como se o próprio abismo quisesse expulsá-los.
Ao emergirem de volta à superfície, não encontraram o mundo como o haviam deixado.
O céu estava tingido de vermelho. As nuvens, girando em espirais douradas e negras. As árvores próximas ao desfiladeiro tremiam com uma força invisível, e a própria terra parecia pulsar.
Tang San ergueu os olhos para o horizonte e sentiu o coração apertar.
— Os domínios espirituais... estão se reconfigurando.
— Como se o mapa do mundo estivesse sendo redesenhado em tempo real — completou Ethan, que agora sentia o peso da conexão com o Nexus. — E eu consigo ver cada linha... cada ponto de ligação. É como se eu fosse o código-fonte.
No interior do Império Céu Dou, o Palácio Imperial se agitava.
Mestres espirituais de todo o continente haviam entrado em estado de emergência. Relatórios vinham de todas as direções: florestas inteiras desaparecendo, montanhas surgindo onde antes havia planícies, feras espirituais comportando-se como se estivessem... pensando.
No templo dos Deuses, oculto nas ruínas da Montanha Sagrada, Qian Renxue — encarnada como a Deusa do Anjo — emergia de sua meditação com os olhos em chamas.
— Alguém mexeu no Nexus... e não foi um Deus — disse em voz baixa.
Uma luz dourada se formou atrás dela. Outra figura divina se materializou: Poseidon. Tang San, em sua forma de Deus do Mar, mas ainda na consciência futura.
— Não apenas mexeu. Ele reescreveu. Ethan... — os olhos de Poseidon se apertaram. — Ele se tornou parte do próprio sistema.
Qian Renxue cerrou os punhos.
— Isso muda tudo.
Enquanto isso, no acampamento improvisado do grupo, Ethan tentava entender a nova conexão que se estabelecera com o mundo.
— Agora consigo ouvir tudo — disse, os olhos fixos no horizonte. — O sofrimento das feras espirituais, os lamentos das almas perdidas, até as preces dos que acreditam nos Deuses. Está tudo... acessível.
— E o que pretende fazer com isso? — perguntou Zhu Zhuqing, surgindo das sombras, séria como sempre.
— Libertar todos. Ou destruir tudo tentando.
Ning Rongrong se aproximou, ainda com ferimentos leves.
— Você já fez o impossível ao reescrever o Nexus. Mas... e se os Arcontes contra-atacarem?
Ethan sorriu de canto.
— Eles virão. Mas agora... eu posso responder.
Na noite que seguiu, o grupo descansou sob uma proteção espiritual criada por Elyss. Ethan, porém, não dormiu. A cada batida de seu coração, novas linhas de código espiritual se revelavam. Ele via os mundos sobrepostos, as realidades alternativas que coexistiam com o Douluo que conheciam.
E, no centro de todas... ele próprio.
Uma mensagem pulsou em sua mente.
[Nova Atualização Disponível: Sistema Etéreo Integrado ao Núcleo Universal][Deseja aplicar?]
Sem hesitar, ele aceitou.
Seu corpo tremeu. Não de dor — mas de expansão.
Imagens passaram por sua mente: guerras esquecidas, civilizações inteiras apagadas por caprichos de entidades que nunca deveriam ter existido. E por trás de tudo... os Arcontes.
Criaturas feitas para manter o ciclo. Guardiões de uma prisão dourada.
Ethan compreendeu, enfim.
— Eu não fui enviado para esse mundo à toa. Eu fui jogado aqui... como uma variável. Alguém que pode quebrar o ciclo.
Ele se levantou.
— Hora de enfrentar o próximo guardião.
Na manhã seguinte, o grupo se reuniu.
— Estamos indo para o Desfiladeiro de Tharsis — disse Ethan. — É onde o Nexus Dois está localizado. Lá, encontraremos o Guardião L'Zeth.
Tang San cruzou os braços.
— E o que esse guardião faz?
— Ele é o balanceador de tempo. Controla os fluxos temporais que mantêm a coerência do mundo. Se formos lá, ele vai tentar nos aprisionar em um ciclo.
— Então precisamos impedir isso antes que comece — disse Xiao Wu.
Dai Mubai estalou os punhos.
— Vamos acabar com ele rápido.
Elyss, porém, os interrompeu.
— Não é tão simples. L'Zeth não pode ser destruído como Khael'tur. Ele é uma entidade paradoxal. Só pode ser vencido por alguém que esteja fora do tempo.
Todos olharam para Ethan.
— E adivinha quem acabou de ganhar acesso às linhas temporais?
A viagem até Tharsis durou três dias. Durante o percurso, o mundo continuava mudando. Cidades inteiras desapareciam da memória coletiva. Povos antes esquecidos retornavam com histórias de eras passadas.
Ao chegarem ao desfiladeiro, encontraram o céu partido. Fendas no ar se abriam e fechavam como feridas em carne viva. E ao centro, uma estrutura colossal se erguia — um relógio invertido, com ponteiros que giravam em direções opostas.
Do topo, surgiu L'Zeth.
Não tinha forma humana. Era um ser feito de engrenagens flutuantes e olhos intermitentes que piscavam em todas as direções. Suas vozes ecoavam em ritmos dissonantes.
— Vocês não deveriam estar aqui. O tempo deve seguir. O ciclo deve manter. O erro deve ser apagado.
Ethan se adiantou.
— O tempo deve ser escolhido. E eu... sou a escolha.
L'Zeth gritou.
E o tempo quebrou.
Todos congelaram.
Menos Ethan.
Estava sozinho entre realidades, flutuando em um mar de memórias.
L'Zeth se aproximou, agora como um gigante de ferro e luz.
— Você não é o primeiro. Muitos tentaram reescrever o destino. Todos foram esquecidos. Todos falharam.
Ethan ergueu o punho, e o símbolo do infinito brilhou em seu peito.
— Eu sou o último. E não serei esquecido.
A colisão entre eles partiu o tempo.
E pela primeira vez... o futuro de Douluo ficou em branco.