O céu estava tingido com tons dourados e violeta quando Elyss e Tang San deixaram as ruínas do campo de batalha. O caminho à frente não era mais uma trilha conhecida, mas uma estrada incerta, repleta de desafios e possibilidades. Luce, o Guardião do Vórtice, caminhava à frente, conduzindo-os com passos leves e seguros. Mesmo sua presença sendo calmante, havia uma tensão no ar — algo que não podia ser ignorado.
A jornada até o Nexus não seria simples. Eles tinham apenas uma pista — o coração da conexão entre os mundos. Mas o que isso significava? O que seria necessário para cruzar esse limiar entre as realidades e alcançar o que restava de Ethan?
— Como chegamos ao Nexus, Luce? — perguntou Elyss, seu olhar fixo no Guardião à frente. Ela sabia que estava prestes a adentrar uma parte do universo que poucos haviam se aventurado, mas a angústia pela perda de Ethan ainda pulsava em seu peito. Ela não podia falhar. Não agora.
Luce virou-se para eles, seu rosto imperturbável, mas com um brilho misterioso nos olhos. Ele havia dito que a jornada seria longa e perigosa, mas nunca havia mencionado o quão intensa seria a carga emocional dessa viagem.
— O Nexus não é um local físico como os que vocês conhecem. Ele não é um lugar que pode ser apontado em um mapa ou encontrado em um simples caminho. O Nexus é a interseção das realidades, o ponto onde o tempo e o espaço se entrelaçam. A única maneira de chegar até ele é por meio de um portal... um portal que só pode ser aberto por aqueles que entendem a essência da existência.
Tang San, que até então se mantinha em silêncio, observou Luce atentamente. Ele havia enfrentado inúmeros desafios ao lado de seus companheiros, mas isso parecia algo além do que ele já tinha vivido.
— Então, como sabemos o que é necessário para abrir esse portal? — Sua voz estava grave, refletindo a complexidade da situação. — E como fazemos isso sem perder tudo o que conquistamos até agora?
Luce olhou diretamente para ele, seus olhos brilhando com um entendimento profundo e distante.
— A chave para o portal está no entendimento do que vocês perderam. Não basta entender o que o Nexus é, mas o que ele representa. O portal só se abre para aqueles que têm um propósito inabalável, que compreendem o verdadeiro valor daquilo pelo qual estão lutando. E, para isso, vocês devem confrontar o que é mais profundo em seus corações: o que estão dispostos a sacrificar para salvar Ethan.
As palavras de Luce pairaram no ar, e uma pesada sensação de incerteza começou a se instalar entre Elyss e Tang San. Eles haviam enfrentado batalhas, superado dificuldades imensas, mas nunca haviam sido desafiados dessa forma. O que mais poderiam perder? O que seria necessário para abrir o portal do Nexus?
Eles continuaram sua caminhada em silêncio, cada um perdido em seus próprios pensamentos. O caminho parecia infinito, as paisagens mudando conforme o tempo passava. As árvores ao redor começavam a desaparecer, dando lugar a uma paisagem desolada, onde o chão tremia levemente como se algo estivesse prestes a surgir do nada.
E então, ao longe, uma construção imensa apareceu, erguendo-se das sombras como uma visão de um pesadelo distante. Era uma torre feita de cristal negro, suas superfícies refletindo a luz das estrelas e absorvendo as cores ao redor. Elyss sentiu um calafrio percorrer sua espinha ao ver a estrutura, como se estivesse diante de algo que não deveria existir.
— É aqui — disse Luce, com uma calma que parecia contrastar com a tensão crescente.
A torre do Nexus.
Ela não estava construída em um plano físico como as outras construções que haviam visto. A torre parecia se expandir e encolher, dobrando o tempo e o espaço à sua volta, criando uma sensação de distorção e desorientação. À medida que se aproximavam, Elyss sentia uma pressão crescente em seu peito, como se o próprio ar ao redor estivesse sendo comprimido.
Luce parou diante da entrada da torre, seus olhos fechados em uma meditação silenciosa. Ele parecia estar conectando-se com algo que estava além do entendimento humano, como se estivesse acessando uma rede de conhecimento que transcendia todas as limitações.
— Para abrir o portal, vocês precisam liberar seus próprios passados — disse Luce, abrindo os olhos lentamente. — O portal do Nexus não será acessado por simples força ou poder. Ele só se abrirá quando vocês olharem para dentro de si mesmos e aceitarem as perdas, os arrependimentos e os momentos que os definiram.
Elyss sentiu um peso em seu coração, uma sensação de inevitabilidade. O que Luce estava pedindo era mais do que uma simples viagem ou um desafio físico. Era um teste psicológico e emocional. Eles não estavam apenas buscando Ethan; estavam sendo forçados a confrontar seus próprios medos e falhas.
— Eu… — Elyss começou, mas as palavras não saíram. O que mais ela precisava sacrificar? Ela já havia perdido tanto. Seu próprio desejo de vingança havia sido apagado, substituído por uma missão muito maior.
Tang San, mais calmo, mas igualmente afetado, se aproximou da entrada da torre. Ele sabia o que significava esse momento. Não era só sobre salvar Ethan. Era sobre entender o que os unia, o que os fazia lutar.
— Vamos fazer isso juntos — disse Tang San, olhando para Elyss. Ele sabia que não poderia fazer isso sozinho, assim como ela também não poderia. Eles eram mais fortes juntos.
O ar ao redor deles começou a brilhar com uma luz suave e pulsante. A torre, antes sombria e imponente, começou a vibrar em sintonia com o ambiente, como se estivesse reconhecendo a verdadeira intenção de quem se aproximava.
Luce deu um passo para o lado, permitindo que os dois se aproximassem da entrada.
— O portal está pronto para ser aberto — ele disse com uma voz que era mais um sussurro. — Mas lembrem-se, o que vocês encontrarem do outro lado não será o que esperam. O Nexus é tanto uma prisão quanto uma porta para a liberdade. Preparem-se para o que virá.
Com um último olhar entre si, Elyss e Tang San entraram na torre.