A floresta estava coberta por um silêncio que não era natural. Nenhum pássaro. Nenhum vento. Só a névoa.
Ela se estendia como uma pele viva entre as árvores, densa demais, fria demais. À medida que avançávamos, ela parecia nos observar.
Velka apertou o punho da espada.
— A Ordem da Névoa está aqui. Eu sinto.
— Quem são eles, exatamente?
— Magos. Assassinos. Espiões. Eles servem ao próprio equilíbrio... mas não hesitam em matar para mantê-lo.
— Equilíbrio?
— Eles acreditam que tudo que cresce demais deve ser podado. Inclusive o caos... e a esperança.
Engoli seco.
— E nós somos o desequilíbrio?
Ela assentiu, sombria.
— Pra eles, sim.
Passos abafados. Sussurros. A névoa girou ao nosso redor. Quatro figuras encapuzadas surgiram, envoltas em mantos cinzentos com olhos cobertos por véus de seda negra.
Um deles falou com uma voz que parecia ecoar dentro da cabeça:
— Akira Shinroz. Portador da fagulha. Você não deve existir.
Velka deu um passo à frente.
— Vão ter que passar por mim, primeiro.
— Será um prazer.
A batalha começou sem aviso.
A névoa se mexia como viva, dificultando a visão. Eles surgiam e desapareciam, como fantasmas. Um golpe me atingiu na costela. Outro rasgou meu braço. Velka lutava como uma loba cercada, seus movimentos mais furiosos do que graciosos.
Mas então, no meio do caos, algo mudou.
Toquei o chão. Concentrei o poder. Não o deixei dominar — só deixei que me obedecesse.
A névoa se afastou de mim.
Um dos membros da Ordem hesitou. Foi o suficiente.
— Fogo sombrio! — gritei, liberando uma onda negra que queimava silenciosamente.
Dois inimigos recuaram, feridos. Os outros sumiram com a névoa, mas deixaram um aviso:
— Isso foi só um teste. O mundo está observando você, Akira. E logo, ele julgará.
O silêncio voltou.
Caí de joelhos. Velka correu até mim, me segurando nos braços.
— Você tá bem?
— Estaria melhor... se não estivesse com você tão perto.
Ela riu, aliviada, mas com os olhos marejados. Pousou a testa contra a minha.
— Idiota. Ainda vai morrer de charme antes de morrer de espada.
Ficamos ali por um instante, corações acelerados, respiração misturada.
Não dissemos mais nada. Não precisávamos.
Mas sabíamos que a Ordem voltaria.
E sabíamos que o que havia entre nós estava crescendo — como a fagulha dentro de mim.
Silenciosa.
Perigosa.
Inevitável.