A figura diante de Ethan não era apenas um guardião, mas uma manifestação de algo mais profundo, algo que Valtor havia cultivado durante seus dias de prosperidade. A aura ao redor da criatura parecia corroer a própria realidade, distorcendo o espaço e a percepção. Era como se o tempo não existisse ali, e as leis da física fossem desafiadas a cada respiração.
O guardião, uma entidade esquelética e sombria, se movia com uma agilidade inesperada para seu porte. Seus olhos brilhavam com uma energia espectral, enquanto ele levantava suas mãos, que mais pareciam garras afiadas, e gesticulava no ar, como se estivesse manipulando a própria essência da cidade.
Ethan sentiu uma onda de energia que parecia empurrá-lo para trás, mas ele resistiu, sua conexão com os Fragmentos tornando-o mais do que humano. Ele podia sentir o poder fluindo através de seu corpo, mas ao mesmo tempo, sabia que esse poder precisava ser usado com precisão. Qualquer erro, e ele seria consumido pela escuridão que o guardião emanava.
— Você não entende, humano — a voz do guardião ressoou, ecoando como se viesse de todos os cantos da cidade. — O que você está buscando aqui... não é algo que se pode simplesmente pegar e usar. O poder que Valtor despertou era além do entendimento humano, e agora você paga por isso.
O guardião ergueu suas mãos, e uma onda de energia negra irrompeu de suas palmas, se lançando em direção a Ethan. Ele tentou desviar, mas a velocidade da onda era impressionante. O impacto foi esmagador, fazendo com que Ethan fosse lançado para trás, caindo sobre os escombros de um antigo edifício.
Ele levantou-se rapidamente, sentindo os Fragmentos dentro de si se agitando, reagindo à ameaça. A energia da criatura era imensa, mas ele tinha a vantagem da experiência. Ele já havia enfrentado inimigos poderosos antes, mas nada como isso. Nada que desafiasse as próprias leis da natureza.
— Isso não vai ser o suficiente — murmurou Ethan para si mesmo, concentrando-se na energia dos Fragmentos. — Eu sou mais do que você pode imaginar.
Com um grito, ele canalizou o poder de todos os Fragmentos dentro de si, e uma explosão de luz branca surgiu ao seu redor, iluminando a cidade desolada. O guardião tentou bloquear a luz com uma barreira de energia negra, mas Ethan avançou, atravessando a barreira com facilidade, como se nada pudesse detê-lo.
O guardião recuou, surpreso pela força de Ethan. Ele nunca havia enfrentado alguém que possuísse um poder tão profundo, tão puro. Mas sua expressão não mostrou medo. Ao contrário, ele parecia ansioso, como se estivesse esperando por este momento há muito tempo.
— Muito bem, humano — disse ele, sua voz se tornando mais profunda e ameaçadora. — Você realmente acredita que pode me derrotar? Que pode controlar o que os antigos mestres de Valtor não conseguiram?
Ethan não respondeu. Em vez disso, ele avançou, usando toda a sua velocidade e habilidade adquirida. Cada movimento era preciso, cada golpe uma extensão de sua própria força interior. Ele estava determinado a superar esse guardião, a desafiar o que quer que o destino tivesse reservado para ele.
O guardião recuou mais uma vez, desta vez conjurando um exército de sombras que surgiram das ruínas ao seu redor. Essas sombras se materializavam como criaturas feitas de pura escuridão, com olhos vermelhos brilhantes e garras afiadas. Elas avançaram em direção a Ethan, tentando cercá-lo de todos os lados.
Mas Ethan não se deixou intimidar. Ele invocou uma energia ainda maior, uma explosão de luz que cortou as sombras com facilidade. As criaturas desapareciam assim que eram tocadas pela luz, mas o guardião não parecia afetado. Ele apenas assistia, seu sorriso agora mais cruel.
— Você não entende... — disse o guardião, antes de levantar suas mãos mais uma vez. — O que você está tentando derrotar não é só um ser físico. É a própria essência de Valtor. E enquanto esta cidade existir, você nunca será capaz de me destruir.
Ethan franziu a testa, seus olhos agora focados na verdadeira natureza da batalha. O guardião não era apenas uma criatura de carne e osso. Ele era uma manifestação do próprio poder de Valtor, uma entidade que representava a corrupção de uma cidade que ultrapassou seus limites. Isso significava que a batalha não seria vencida apenas pela força bruta.
Ele respirou fundo, tentando se concentrar. Se quisesse vencer, precisaria entender o que o guardião realmente representava. Não era uma simples luta física. Era uma batalha pela essência de Valtor, pela própria natureza da cidade.
Elyss, que até agora havia se mantido em silêncio, deu um passo à frente.
— Ele não pode ser derrotado com força bruta. Valtor, em sua busca pelo poder, não apenas corrompeu a cidade, mas também seus próprios habitantes. O guardião é um reflexo disso. Ele é uma manifestação da destruição e do desequilíbrio que tomou conta deste lugar.
Ethan olhou para ela, seu semblante mais sério.
— Então, o que eu devo fazer?
Elyss olhou para o guardião, sua expressão grave.
— Você precisa purificar este lugar. Remover a corrupção. Não é o poder físico que vai vencê-lo, é a restauração do equilíbrio que Valtor perdeu.
Ethan então compreendeu. Ele não poderia simplesmente destruir o guardião. Para derrotá-lo, precisaria restaurar o que foi perdido, trazer de volta o que a cidade havia abandonado. Isso exigia mais do que força. Exigia uma compreensão profunda de si mesmo e do que ele havia se tornado.
Com isso em mente, ele se concentrou novamente, mergulhando nas profundezas dos Fragmentos dentro de si. Eles não eram apenas fontes de poder. Eles eram pedaços de sua alma, representações das escolhas e experiências que o haviam moldado.
Ele estendeu a mão, e uma energia pura e brilhante emanou de seu corpo. A luz parecia purificar o ar ao seu redor, dissolvendo as sombras e enfraquecendo o guardião.
O guardião gritou, seu corpo começando a se desfazer sob o impacto da energia. Ele tentou resistir, mas a força da luz de Ethan era imbatível. A cidade de Valtor, que parecia imersa em uma escuridão eterna, começou a recuperar sua cor, sua forma original.
Com um último grito, o guardião foi consumido pela luz, desaparecendo na vastidão da cidade.
Ethan caiu de joelhos, exausto, mas aliviado. Ele havia vencido. Mas sabia que não era a última batalha. A jornada estava longe de terminar.
Elyss se aproximou, ajudando-o a se levantar.
— Você fez o que precisava fazer, Ethan. Mas a verdadeira prova está à frente.
Ethan olhou para as ruínas ao seu redor, agora iluminadas pela luz que ele mesmo havia invocado.
— Eu sei. O que quer que venha agora, estarei pronto.