O silêncio tomou conta das ruínas de Valtor depois da derrota do guardião. A cidade, que havia sido um epicentro de poder e destruição, parecia agora mais serena, mas Ethan sabia que esse silêncio era apenas temporário. Mesmo com a energia negativa dissipando, a terra ainda carregava a memória de todos os horrores que haviam ocorrido ali.
Enquanto Ethan tentava recuperar sua energia, Elyss se afastou por um momento, observando as ruínas ao seu redor com um olhar distante, quase como se estivesse ouvindo algo que ele não conseguia captar. Ele sabia que ela estava sentindo algo, algo além da simples quietude do lugar. Era como se as paredes e os escombros estivessem tentando comunicar algo a ela.
— O que você está sentindo? — perguntou Ethan, se aproximando dela com cautela.
Elyss se virou para ele, seu rosto marcado por uma expressão de preocupação.
— Valtor não morreu com o guardião. O que aconteceu aqui... ainda ressoa. A cidade não foi completamente purificada. Há algo mais, algo mais profundo que permanece oculto, aguardando o momento certo para se revelar.
Ethan franziu a testa. Ele não conseguia compreender completamente o que Elyss queria dizer. A cidade parecia pacífica, e o guardião, a principal ameaça, estava derrotado. O que mais poderia haver?
Antes que pudesse perguntar mais, um som suave começou a ressoar no ar, uma melodia distante e etérea, como se algo estivesse tocando uma música que atravessava o espaço e o tempo. A sensação foi imediata — algo estava se movendo, algo estava despertando. A terra ao redor deles começou a tremer levemente, e as sombras nas paredes das ruínas pareciam dançar, como se tivessem vida própria.
— Não... — Elyss sussurrou, seus olhos se arregalando de entendimento. — Eles estão voltando.
Ethan olhou ao redor, suas mãos se movendo instintivamente para as lâminas, pronto para qualquer coisa. Ele já havia enfrentado muitos inimigos, mas essa sensação era diferente. Algo mais estava se aproximando, algo que nem ele nem Elyss estavam preparados para enfrentar.
Em resposta ao som crescente, uma fenda começou a se abrir no centro da praça, onde o guardião havia sido derrotado. A fenda brilhava com uma luz opaca e pulsante, como se estivesse ligada a outra dimensão, a uma outra realidade. Ethan sentiu a pressão ao redor dela, como se as leis do espaço estivessem sendo distorcidas. A terra ao redor da fenda começava a se contorcer, se retorcendo em padrões incompreensíveis.
De dentro da fenda, uma figura emergiu, alta e imponente, seu corpo cercado por uma aura de pura escuridão. Era uma presença esmagadora, e Ethan não podia negar que sentia seu poder — muito além de qualquer coisa que ele já havia enfrentado.
A figura se materializou completamente, e uma voz ecoou em sua mente, como um sussurro profundo.
— Ethan... você finalmente chegou até aqui.
Elyss deu um passo à frente, seus olhos fixos na entidade.
— Não pode ser... Você é um dos antigos! O poder que Valtor destruiu...
A figura sorriu, um sorriso sem vida, como se estivesse se divertindo com a confusão deles.
— Valtor destruiu a cidade, mas não destruiu a essência de seus fundadores. Eu sou um fragmento do que eles eram, e a cidade, mesmo destruída, ainda carrega a marca de sua criação. Você, Ethan, é a chave para o que está por vir. O que Valtor não conseguiu completar... você pode.
A revelação caiu como uma pedra, e Ethan sentiu a tensão crescer dentro dele. O que aquilo significava? A cidade de Valtor não havia sido destruída de fato, apenas transformada. E o que quer que fosse aquela entidade, ela parecia saber mais sobre ele do que ele mesmo sabia.
— O que você quer de mim? — perguntou Ethan, sua voz carregada de desconfiança.
A figura ergueu uma mão, e a fenda atrás dela se expandiu ainda mais, absorvendo toda a luz ao redor. O chão tremeu violentamente, e Ethan teve a sensação de que a própria cidade estava se reconstituindo, como se tivesse sido uma mera casca que agora se desfazia.
— Eu quero que você escolha — disse a entidade, sua voz soando como o eco de um grito distante. — Você veio até aqui buscando poder, mas o que fará com ele? Você pode destruir o que resta de Valtor, ou pode aceitá-lo e dominar tudo o que há além. Não há mais caminhos fáceis. A guerra que você iniciou está apenas começando.
Elyss tentou avançar, mas foi impedida por uma força invisível, como se uma barreira tivesse se formado entre ela e Ethan.
— Não, Ethan! Você não pode confiar nele! Ele está tentando te manipular, como fizeram com Valtor! Não caia nessa!
Mas Ethan não ouviu. Seus olhos estavam fixos na figura diante dele, e algo dentro dele começou a mudar. A cidade estava oferecendo-lhe um poder como nenhum outro. Ele poderia finalmente alcançar a grandeza que sempre buscou, ou poderia destruir tudo e começar de novo. Mas a escolha não seria simples. Havia um preço a ser pago.
A entidade sorriu novamente, como se estivesse observando seus pensamentos se formarem. Ela sabia o que estava acontecendo dentro da mente de Ethan.
— O que escolherá, Ethan? O poder ou a destruição? O destino de Valtor está em suas mãos.
Ethan fechou os olhos, respirando profundamente. Ele não poderia tomar essa decisão precipitadamente. O que quer que fosse aquela entidade, ela estava testando-o. E ele não tinha certeza de que poderia confiar em seu próprio julgamento, mas sabia que deveria ser cuidadoso.
— Eu não sei ainda o que farei — disse ele, sua voz cheia de determinação. — Mas sei que vou decidir o meu próprio destino. E não vou permitir que ninguém o faça por mim.
A figura pareceu satisfeita com sua resposta, como se estivesse esperando por essa resistência. Ela recuou lentamente, sua presença se tornando menos opressiva.
— Muito bem, Ethan. Vamos ver até onde sua determinação pode levá-lo. Mas lembre-se, o poder que você busca tem um preço. E o que você encontrar no final da sua jornada pode não ser o que você espera.
Com essas palavras, a entidade desapareceu, e a fenda começou a se fechar lentamente, deixando Ethan e Elyss no meio da praça silenciosa. A cidade estava novamente calma, mas Ethan sabia que a verdadeira batalha ainda estava por vir. Ele agora tinha uma decisão a fazer, e essa decisão mudaria o curso de sua jornada para sempre.