O golpe perfurante atingiu com a força de um touro — toda ela concentrada na ponta de um gume inexorável e incandescente.
Houve um impacto seco e uma força contrária que fez doer meus ossos.
Pequenas lascas da casca pétrea voaram, enquanto a lâmina sublime rompia uma resistência que não deveria ceder diante de um mero oponente Dormente.
A espada cravou-se e afundou na superfície do ovo da prole vil sob o peso de minha investida.
Um clarão de luz carmesim, sinistra, brilhou através das rachaduras que se abriram... e desapareceu.
Terminus Est se chocou contra o fundo do gigantesco ovo, e sua casca terminou de se romper, revelando apenas escuridão.
Uma torrente de líquido preto e viscoso fluiu sobre as teias brancas de aranha.
No silencio que se seguiu, o Feitiço anunciou:
[Você matou um diabo grande, Prole do Vil Pássaro Ladrão.]
[Você recebeu uma Memória: Gota de Icor.]
Atento às suas palavras, aguardei por um momento. Então, apertei os lábios, um tanto desapontado. Eu realmente queria aqueles sessenta e quatro fragmentos oníricos.
Mas, pelo visto — além de já carecer de essência da alma — a prole vil também não possuía reminiscências suficientes sequer para formar um único extrato de sonhos.
{Isso é... ugh...}
A voz do Espírito da Espada soou, mas sua sonoridade estava interrompida — como se ela estivesse sob alguma dificuldade.
Antes que eu pudesse formular minha preocupação—
[Sua alma resplandece mais forte.]
Uma inundação surgiu de súbito.
Uma quantidade assustadora de essência onírica permeou-me, intensificando de forma memorável o poder de minha alma lírica.
Carne e ossos pareciam ser galvanizados de dentro para fora por uma força etérea. Meu corpo cambaleou, e apoiei-me na espada para firmar-me. Pensamentos aceleraram-se, e os sons de um coração pulsante os preencheram.
Isso poderia ter sido eufórico, não fosse tão abrupto e sem explicações.
‘Status!’ chamei pelas runas.
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Fragmentos Oníricos: [956/2000].
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“... Oitocentos”, sussurrei, espantado.
Então, lembrei-me de terminar de conferir os Atributos e Habilidades da Terminus Est — os únicos suspeitos conhecidos que poderiam ser os agentes dessa agradável surpresa.
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[Geração da Fantasia].
Descrição do Atributo: [Restaurada pelo poder dos sonhos, Terminus Est é um ser extraordinário — e tão real quanto o mundo que a concebeu.]
[Lâmina de Ariandel].
Descrição do Atributo: [Restaurada a partir da essência de Ariandel of Fantasy, Terminus Est está vinculada a alma de seu portador.]
[Juramento da Espada].
Descrição do Atributo: [Terminus Est possui uma vontade viva—tão forte quanto a afeição de uma jovem beldade e tão mortal quanto seu amor ardente.
Sua lealdade é inabalável, e seu juramento, eterno.]
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[Lâmina Sublime].
Descrição da Habilidade: [O corpo desta espada é forjado de ouro puro, de ferro duro, de diamante — ela é afiada além da lógica; ela é durável além da razão.]
[Fardo das Lembranças].
Descrição da Habilidade: [Esta espada é capaz de conservar uma porção da essência da alma de qualquer ser contemplado por seu gume como essência onírica.]
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E ali eu a encontrei, entre as descrições impressionantes — uma incrível Habilidade de crescimento.
“E-e-eu serei abençoado...” murmurei, encantado, enquanto olhava para a espada em minhas mãos.
Pelo que era explicado pelo Feitiço, acabávamos de experienciar a digestão onírica de uma parte significativa da alma de um Diabo Grande.
{Cerca de dez por cento da essência do ser, multiplicado — ou dividido — por dois elevado à diferença entre o Ranque da alma absorvida e o da alma que absorve, eu diria. A Classe não tem influência.}
A voz do Espírito da Espada soava como o tintilar de cristais e parecia vir de um lugar muito íntimo, falando diretamente à minha alma.
Ela se recuperara de imediato e não parecia se comover com a situação, apesar de ter sido ela quem suportara o peso do processo.
{Voltar ao meu dever, e matar um Diabo Grande. Estou encantada, na verdade.}
Um sorriso manso surgiu em meu rosto iluminado diante daquela fala suave.
“Será um prazer contar com você, Terminus Est.”
Com isso dito, deixei as desconhecidas novidades para o final, começando pelas runas da nova Memória.
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Memórias: [Sempre-Viva], [Armadura da Legião Luz das Estrelas], [Fragmento da Meia-Noite], [Gota de Icor].
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[Gota de Icor].
Classificação da Memória: Desconhecido.
Nível da Memória: Desconhecido.
Tipo da Memória: Desconhecido.
Descrição da Memória: [O Vil Pássaro Ladrão era detestado tanto pelos deuses quanto pelo –desconhecido-.
Contudo, ele só se importava com coisas reluzentes.
Enfeitiçado pelos belos olhos de Weaver, roubou um deles numa noite escura e sem estrelas. Impaciente, a criatura odiosa contemplou seu prêmio ainda em pleno voo.
Porém, ao ver o reflexo do -desconhecido- eternamente congelado nas profundezas da pupila de Weaver, enlouqueceu e gritou, deixando cair o olho no mundo mortal abaixo.
Tudo o que restou em seu bico ganancioso foi uma única gota de icor puro e dourado.]
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A descrição daquilo era tão pouco convidativa que um fio de dúvida ainda serpenteou ao redor de meu coração, apesar da restauração em minha determinação.
{A maldição que você quer tomar para si é descrita como abominável por algum motivo, afinal.}
‘Você dá ao ato um tom muito mais altruísta do que ele realmente é.’
{Estou curiosa para ver você lidar com o 'porém’ destas “bênçãos”.}
‘Você já não conhece os meus pensamentos?’
{Uma donzela não pode apreciar uma prosa leve?}
Sorri e ri alegremente com a graça agradável da minha parceira dos sonhos.
Então, alcancei a Memória em minha alma com um toque levemente descontraído, invocando-a.
Instantaneamente, faíscas de régia luz dourada surgiram no ar à minha frente, fundindo-se em uma gota esférica e flutuante de um inaudito líquido dourado radiante.
Antes que eu pudesse terminar de apreciar a fantasia do momento—
[Você adquiriu uma gota de icor. Deseja consumi-la?]
O Feitiço falou novamente, sua voz soando um pouco diferente pela segunda vez — e em meros minutos.
Desta vez, era quase como se a construção divina estivesse... entusiasmada.
No entanto, o que realmente me prendeu a atenção foi o fato de que o trabalho de Weaver não se mostrava, em nada, indisposto a me ver tomando o destino dos outros.
{Pensar sobre isso seria um esforço sem qualquer possibilidade de proveito, creio eu.}
Ao Espírito da Espada, assenti. Ao Feitiço, sem mais demora, respondi:
“Sim, por favor.”
E como resposta, ouvi-o dizer algo desnecessário pela primeira vez:
[Como desejar, Príncipe da Fantasia.]
A esfera dourada se dividiu em dois fluxos de um líquido belo e radiante. Eles fluíram pelo ar, aproximando-se de meu rosto. Senti seu toque acariciar minhas bochechas.
Então, o líquido auricolor alcançou meus olhos e fluiu através deles, inundando minha visão com seu esplendor áureo e penetrando em minha alma por meio deles.
Logo, ele desapareceu.
"Ah... isso vai doer, não vai?"
{Sua constituição sonhadora o poupa de sentir muita dor.}
"Foi o que pensei... depois que aquele raio me atingiu."
Um segundo se passou, depois outro.
"Me evocou as Joias da Alma, de Madoka Magica. Imaginei que o Núcleo Onírico da Alma traria benefícios semelhantes."
Uma flamejância branco-áurea ainda acariciava os arredores com sua luminosidade suave. Meu corpo e minha espada permaneciam embebidos por seu poder, que irradiava através de minha alma — uma sensação morna e agradável me envolvia.
Ainda assim, tremi quando finalmente senti alguma coisa. Mas não foi como a dor que eu esperava.
Não se tratava de uma agonia excruciante, nem do prenúncio de um sofrimento angustiante.
Em vez disso, foi como se a força que sustentava cada músculo, cada órgão e todos os meus ossos tivesse sido subitamente interrompida por algo em meu próprio sangue.
Meus olhos se fecharam sem que eu os comandasse.
{!!!}
Eu me sentia distante de mim mesmo...