Cherreads

Chapter 44 - O espelho quebrado.

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Capítulo– O Espelho Quebrado

A noite caiu densa, com um silêncio pesado demais para um vilarejo. A luz das velas parecia arder mais devagar, como se o tempo se esticasse. E quando os olhos se fecharam… os pesadelos começaram.

Tharion

Ele se via no campo de batalha, coberto de sangue, mas os corpos ao seu redor não eram inimigos. Eram Orren, Aelys, Kátyra… e o menino. Todos mortos por suas mãos. O silêncio era quebrado apenas pelo som de correntes apertando seus pulsos. A voz de Dimitry ecoava:

— Você quebrou tudo, rapaz. Tudo.

Kátyra

Estava sozinha diante do trono de Adam. Seu avô estava de costas. Quando ela se aproximava, ele virava-se — mas tinha o rosto de Erizy. A barriga dela voltava a crescer, pulsando como algo vivo. Quando gritava, ninguém ouvia. Tharion passava por ela sem enxergá-la. Seus pais viravam o rosto. Um espelho se partia, revelando... ela mesma, com olhos negros.

Orren

Viu-se novamente criança, diante da fogueira que consumiu sua vila. As chamas tinham rostos: de seus antigos mestres, seus irmãos de clã. A mãe dele estendia a mão, mas cada vez que ele se aproximava, ela se desfazia em pó. Ele gritava, e o vento levava sua voz.

Aelys

Estava em uma cela. De novo. Os Darxas a cercavam, arrancando pedaços de sua memória. Via o rosto de sua irmã, que ela nunca conseguiu salvar, implorando por ajuda. A corrente apertava seu pescoço, e alguém ria. A risada era sua.

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Acordar

O grito de Kátyra rompeu o encantamento. Um por um, os outros despertaram — arfando, suando, trêmulos.

Mas não estavam mais na estalagem.

As paredes ao redor estavam rachadas, cobertas de limo. A madeira apodrecida e os cacos de espelho espalhados pelo chão sugeriam abandono há muitos anos. Não havia mesa, comida, música. Só um cheiro de podre.

Orren engoliu em seco.

— Mas... eu jurei que comi oito tortas ontem.

Aelys cutucou o chão com a ponta da bota, o olhar ainda perdido.

— Isso foi um delírio coletivo. Um tipo de encantamento. Talvez do templo...

Kátyra se afastou, os braços cruzados, sem sequer olhar para Tharion.

Ele tentou se aproximar.

— Kátyra…

— Não fala comigo — ela respondeu, fria. — Me respeita... como fez ontem à noite.

A tensão entre os dois era densa como o nevoeiro da floresta.

Orren, percebendo o clima, pigarreou.

— Bom, ao menos ninguém tentou nos matar fisicamente. Ainda é um dia produtivo.

Aelys sorriu, cansada, e se aproximou de Kátyra.

— Você tá bem?

— Não — respondeu ela, sincera. — Mas obrigada por perguntar.

E, aos poucos, entre as cinzas daquela ilusão, uma nova aliança começava a se formar. Kátyra passou a caminhar mais ao lado de Orren e Aelys. Os risos vinham com menos esforço. Tharion, por sua vez, mantinha distância — mas os olhos sempre a acompanhavam, em silêncio.

O grupo não sabia o que encontraria adiante. Mas sabiam que a estrada estava longe de terminar.

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